Como ajudar alguém com pensamentos suicidas?

12/09/2016 14:13

Quando a vida perde o sentido, o suicídio pode ser uma ameaça silenciosa. Como identificar a intenção de tirar a própria vida e o que fazer nesses casos.

Pessoas suicidam em momentos de desespero, ou seja, quando perdem a esperança. Alguns cometem suicídio devido a grave comprometimento mental, agudo ou crônico, como crise psicótica, surto por uso de drogas e crise moral-espiritual.
Ao lidar com pessoas que tentam suicídio, temos que diagnosticar o estado mental do indivíduo. É depressão grave? Reação a drogas? Surto psicótico? Violência espiritual? Ou é algo situacional, impulsivo, daquele momento de desespero, havendo em seguida o arrependimento? Se, ao passar por uma avaliação, a pessoa disser que tem ideias suicidas, ela não deve ficar sozinha em momento algum, até que o pensamento suicida lhe saia da cabeça. Além disso, o acompanhamento psiquiátrico deve começar de imediato.

No atendimento a um paciente deprimido grave, temos que avaliar o estado do pensamento suicida. Como? Olhando nos olhos da pessoa e perguntando:
Você tem pensado em morte, em acabar com sua vida, em se matar? Aí teremos, de modo geral, dois tipos de respostas:
Sim, penso em morte, mas penso no sentido de Deus me levar para me tirar do sofrimento.
Então, prosseguimos com outra pergunta:
Você pensou recentemente em se matar?
Geralmente, a pessoa que não tem supostamente risco suicida, nesse momento diz algo como:
Não, mas se Deus me levasse…
Nesse caso, vamos para uma pergunta mais direta, que em geral é conclusiva:
Numa hora de muita angústia, muito desespero, você teria coragem de se matar?
A pessoa com pequeno ou sem risco suicida, dirá:
Não, eu não teria coragem.
Outro tipo de resposta pode ser observado se ao você “pressionar” gradativamente com as perguntas, a pessoa tirar o olhar de você, ficar quieta por alguns segundos, e diante da sua pergunta final, se ela tem pensado em se matar, dirá (talvez depois de alguns segundos quieta e, quem sabe, chorando, ou com uma face muito consternada):
Sim, tenho pensado em me matar.
A próxima pergunta, então, será:
Que forma de suicídio você tem pensado em praticar? Já falou com alguém sobre o assunto?
Isso ajuda a pessoa a colocar para fora a ideia e, ao falar com alguém (profissional ou não) sobre isso, abre uma porta para receber ajuda. No fundo, o suicida não quer morrer, mas não sabe como continuar a viver sem esperança. Temos que dar alguma esperança, a mais concreta possível. Frases clichês, do tipo “Deus ama você”, podem não funcionar nesse momento. Há momento para o conforto espiritual também, mas não na hora da crise e total desespero.
Temos que colher na história da pessoa algo positivo que sirva de “boia” para ela se agarrar e voltar a ter esperança, ou a sair da desesperança. Algumas possibilidades de apelo, nesse caso:
Falar que pessoas da família (cite nomes) ficariam traumatizadas e que o suicídio nunca mais sairia da cabeça delas.
Mostrar, no caso de ser mãe ou pai que pensa em suicídio, que os filhos precisam sim do seu apoio.
Falar que a mente dela, devido à depressão, está com alterações nos circuitos cerebrais e isso faz com que a avaliação da realidade esteja distorcida ou negativamente aumentada para pior e que, assim, as coisas podem não ser tão drásticas, ou, se são, a mente depois reage e se adapta.
Citar uma reportagem em que o repórter entrevistou várias pessoas que tentaram o suicídio e na “hora H” algo falhou (a bala não saiu do revólver, a queda não foi fatal, a corda arrebentou, etc.), explicando que o repórter, ao perguntar para o pretenso suicida o que passou na sua cabeça, a resposta era sempre a mesma: “Eu me arrependi!”, ou seja, há saída para o sofrimento!
Muitos continuaram vivos após tentativa de suicídio e aprenderam a lidar com a perda que os motivou a acabar com a vida. Isso é diferente de encontrar a saída para algumas perdas irreparáveis como o rompimento do casamento, a morte de um filho, a perda trágica de um ente querido, etc.
Podemos, então, concluir dizendo à pessoa coisas como:
Você deve procurar alguém, telefonando, visitando, indo à casa da pessoa, saindo para a rua na hora do pensamento suicida. Telefone para mim a qualquer hora (dê seu número de contato). Não fique sozinho em casa. Faça oração, abrindo o coração a Deus e dizendo a Ele o que está sentindo, crendo que ele escuta a sua prece. Lembre-se do que conversamos e creia com esperança que tudo vai melhorar (você deve repetir o que foi falado de positivo diante do problema). Lembre-se de que esses pensamentos suicidas são frutos de circuitos cerebrais em ondas e que isso vai passar.
Além disso, você deve procurar um amigo ou parente dessa pessoa (a que está tendo pensamentos suicidas) e avisar sobre o risco do atentado contra a própria vida. Explique sobre a necessidade de monitoramento 24 horas por dia e reforce a necessidade de continuar com medicação antidepressiva e psicoterapia de apoio.
Texto do Psiquiatra Cesar Vasconcellos de Souza para a Revista Vida e Saúde